segunda-feira, 6 de outubro de 2008

fagulhas


Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria rir, chorar,
ou pelo menos sorrir
com a mesma leveza com que
os ares me beijavam.
Eu queria entrar,
coração ante coração,
inteiriça,
ou pelo menos mover-me um pouco,
com aquela parcimônia que caracterizava
as agitações me chamando.
Eu queria até mesmo
sabe ver,
e num movimento redondo
como as ondas
que me circundavam, invisíveis,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva.

Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava.
Eu queria
apanhar uma braçada
do infinito em luz que a mim se misturava.
Eu queria
captar o impercebido
nos momentos mínimos do espaço
nu e cheio.
Eu queria
ao menos manter descerradas as cortinas
na impossibilidade de tangê-las.
Eu não sabia
que virar pelo avesso
era uma experiência mortal.

Ana Cristina César

4 comentários:

Adair Carvalhais Júnior disse...

Que belo !

Bee-a disse...

demais da conta...

Anônimo disse...

Por essas e outras eu amo Ana C...

Adorei seu blog (em tempo: te achei através do blog da Padmaya, acho).

Bjos!

Bee-a disse...

Obrigada pela visita, Ada!
Vc deve ter me achado através da Nana, não?
bjos!