quinta-feira, 18 de setembro de 2008

LXXVIII - Spleen


Quando o céu plúmbeo e baixo pesa como tampa
Sobre o espírito exposto aos tédios e aos açoites,
E,ungindo toda a curva do horizonte, estampa
Um dia mais escuro e triste do que as noites;

Quando a terra se torna em calabouço horrendo,
Onde a Esperança, qual morcego espavorido,
As asas tímidas nos muros vai batendo
E a cabeça roçando o teto aprodecido;

Quando a chuva, a escorrer as tranças fugidias,
Imita as grades de uma lúgubre cadeia,
E a muda multidão das aranhas sombrias
Estende em nosso cérebro uma espessa teia,

Os sinos dobram, de repente, furibundos
E lançam contra o céu um uivo horripilante,
Como os espíritos sem pátria e vagabundos
Que se põem a gemer com voz reclacitrante.

- Sem música ou tambor, desfila lentamente
Em minha alma uma esguia e fúnebre carreta;
Chora a Esperança, e a Angústia, atroz e prepotente,
Enterra-me no crânio uma bandeira preta.


Charles Baudelaire
As Flores do Mal
Tradução de Ivan Junqueira

2 comentários:

Fred Matos disse...

Olá Bia. Cheguei a ficar em dúvida, pois na tradução que tenho, do Jamil Almansur Haddad, o LXXVIII é completamente diferente. Começa com o verso: "Pluviose, a erguer-se, e contra a cidade irritado," e é um soneto.
Mas na tradução espanhola, de E.M.S. Danero, vejo que é o mesmo poema traduzido pelo Ivan.´


"Cuando el cielo bajo y pesado como tapadera
Sobre el espíritu gemebundo presa de prolongados tedios,
Y del horizonte, abarcando todo el círculo,
Nos vierte un día negro más triste que las noches; (etc...)

Fiquei curioso, é coisa pra estudar.

Beijo.

Bee-a disse...

Fred,
não conheço a tradução do Haddad,mas pelo que vc disse parecem poemas diferentes... talvez algum problema na seqüencia dos poemas... tenho um professor que conhece bastante Baudelaire, vou perguntar a ele se sabe de algo a respeito.

Obrigada pela visita!
Um beijo! =)